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O futuro é código aberto

"A Internet não é uma rede de computadores. É uma rede de pessoas. Aí está sua verdadeira força."

Rik Van Riel declara assim sua crença no poder da tecnologia da informação, não num mundo onde as máquinas dominam e isolam os homens, mas numa sociedade melhor e mais solidária. Aficcionado por

informática, Rik tem 22 anos, e já faz seis anos que aderiu ao Linux, primeiro por curiosidade e depois por convicção. Trabalhando em tempo integral com desenvolvimento em Linux e ativamente na área de gerenciamento de memória, também considera os computadores como seu passatempo, além de ler e escutar rádio.

Esse holandês, que mora em Gronigen, é um típico representante dessa nova safra de desenvolvedores que abraçou a causa do software livre.

Foi escoteiro durante treze anos, e no Linux encontrou vazão para sua compulsão de ajudar os outros, compartilhando conhecimentos e contribuindo para uma sociedade mais inteligente.

Revista do Linux — Por que você começou a usar o Linux? Conte um pouco dessa história e por que resolveu trabalhar com gerenciamento de memória?

Rik Van Riel — Comecei com Linux sem muitas pretensões. Conhecia o DOS e o OS/2, que era muito lento na minha pequena máquina, mas desejava fazer mais com meu computador. Como o meu disco rígido era pequeno e os módulos do kernel ainda não existiam, a única peça do código fonte em meu disco era o fonte do kernel. E como sempre tive curiosidade para saber como os computadores operavam, comecei a pesquisar a versão 1.1.59 do fonte do kernel. Ouvi certa vez, não me lembro como ou quando, que o gerenciamento de memória do Linux era um pouco primitivo — e era mesmo —, então comecei a investigar o código de gerenciamento de memória. Hoje, cinco anos depois, ainda estou folheando esse código e tentando torná-lo melhor, mas essa é realmente uma tarefa complexa.

RdL — Por que você decidiu trabalhar com sofware livre ao invés de trabalhar em uma empresa de código proprietário?

Riel — Estou trabalhando em uma empresa de código aberto principalmente porque meu trabalho em Linux começou como um hobby e agora continuo fazendo exatamente a mesma coisa que fazia antes, com a diferença de trabalhar em tempo integral e ser remunerado por isso.

Realmente gosto de trabalhar com software de código aberto porque ele me permite compartilhar minhas idéias com programadores do resto do mundo, que dão opiniões e revisam essas idéias, antes que eu perca meu tempo fazendo implementações sobre idéias que, eventualmente, serão mudadas. Isto leva a um desenvolvimento muito mais rápido e gera um código de melhor qualidade.

RdL — Você aposta no software livre? De que forma?

Riel — Sim, acho que o futuro terá mais e mais códigos abertos.

Primeiro, porque o desenvolvimento de código fechado é de menor qualidade, por ser restrito a um número muito limitado de pessoas, não importa quão grande seja a empresa ou o número de programadores envolvidos no desenvolvimento de um produto.

E muitos dos melhores programadores certamente concordam que o código aberto permite que qualquer um dê uma olhada e promova melhorias. Em segundo lugar, devido aos preços, o hardware está ficando tão barato que o software comercial acaba ficando caro demais para ser usado. No final, compartilhar custos de desenvolvimento graças ao uso do código aberto é melhor para todos.

RdL — O que você acha de empresas de hardware e software que estão sempre lançando produtos novos e caros, na maioria das vezes sem ganho real de performance para os usuários?

Riel — O hardware não é o mais caro. Há apenas oito anos, o preço médio do computador era mais de duas vezes o praticado hoje. Além disso, os computadores atualmente trazem, por padrão, recursos como monitor colorido, interface gráfica, som e modem para acessar a Internet. As empresas de hardware fizeram um bom trabalho fornecendo hardware cada vez melhor por um preço igual ou até inferior ao praticado anteriormente. É uma vergonha que o software não tenha sido capaz de dar aos usuários todas as vantagens do novo hardware, mas eu não culparia os fabricantes de hardware por isso.

RdL — O que você acha dos fanáticos por Linux que preferem, normalmente, usar o modo texto em vez de aplicações gráficas, que ajudariam a popularizar o movimento de software livre?

Riel — Tudo bem se eles

preferem usar o modo texto. É o computador deles. No entanto, eles precisariam entender que o modo texto não é o que a maioria das pessoas quer usar em seus computadores e elas não vão adotar suas opiniões. O Linux é igualmente bom para ambos, tanto para os usuários de interface gráfica, como para os de modo texto.

Espantá-los tentando fazer com que eles usem modo texto quando tudo o que querem é usar Staroffice e Netscape, não é uma atitude produtiva.

Acho que a melhor forma de promover o Linux é mostrar às pessoas que ele permite que elas façam o que quiserem com seu computador. Insistir que outras pessoas deveriam usar seus computadores da mesma maneira que você está usando, é a pior coisa que se pode fazer.

RdL — Qual o futuro do Linux na área de gerenciamento de memória?

Riel — Ele será mais rápido, mais flexível e mais hábil ao lidar com situações de overload. Mas isso será transparente para os usuários e eu penso que nós devemos ser capazes de fazer isso tão bem que nenhuma outra mudança seja necessária, exceto para oferecer suporte a necessidades especiais em aplicações específicas.

RdL — E o futuro do GNU/Linux? Você acredita que o Linux dominará o mercado?

Riel — Mais recentemente, o GNU/Linux tem conquistado um grande número de companhias, algumas delas bem grandes, que têm ajudado no desenvolvimento do sistema e suas aplicações. Algumas dessas grandes empresas estão agora muito mais dependentes do GNU/Linux e de outros programas de código aberto, então eu não acredito que exista um caminho de volta. Além disso, o hardware está lentamente tornando-se mais barato do que o software comercial. Considere também que ninguém quer dobrar o preço de suas máquinas para adquirir algum software.

Isso será especialmente relevante para lojas de computadores, que precisam ser mais baratas e melhor do que seus concorrentes do outro lado da rua. Eu não sei se será o Linux que dominará o mercado, mas realmente sei que, qualquer que seja o sistema, ele vai usar muitos dos programas e o código fonte que os atuais sistemas GNU/Linux estão usando.

RdL — Você acredita que a Ucita vá prejudicar o movimento pelo software livre?

Riel — Não acho que a Ucita será um grande problema, primeiro porque a Ucita é um problema localizado nos Estados Unidos e grande parte do desenvolvimento de software livre está acontecendo em outros países.

Segundo, porque até agora somente um estado adotou a Ucita em sua forma original, e outro estado a mudou para proteger seus cidadãos de interesses corporativos. Embora seja verdade que alguns governantes são "comprados" por grandes companhias para aprovar leis que as beneficiam, um grande número de governos ainda reconhece que nós estamos vivendo em uma democracia e que eles estão lá para tomar decisões equilibradas. Recomendo que você fique de olho no seu governo e aja antes que seja muito tarde.

RdL — Entre tantos projetos, qual você destaca como o mais promissor?

Riel — A Internet. Agora que todos os computadores podem "falar um com o outro", os usuários exigem que as aplicações também sejam compatíveis entre si. A longo prazo, isto deverá conduzir a uma situação em que os usuários tenham a liberdade de escolher o programa que queiram usar, sem ficar amarrados a um

formato particular de arquivo. Proporcionar essa liberdade aos usuários é uma das coisas mais importantes a se conquistar, em minha opinião.

 

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