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Quem tem medo do Linux?

Algumas pessoas adeptas ou porta-vozes de outros sistemas operacionais têm alegado, na tentativa de desvalorizar o crescente gosto pelo Linux, que ele apresenta deficiências fatais a médio e longo prazo, principalmente quando adotado como solução corporativa. Em seu propósito de disseminar o medo, a incerteza e a dúvida em relação ao software livre, essas pessoas acabaram transformando esses alegados defeitos em virtuais mitos sobre Linux.

Paralelamente, ninguém pode deixar de reconhecer que esse sistema operacional e inúmeros programas livres estão avançando sobre todos os segmentos do mercado, que já conquistaram a mídia e estão rapidamente expandindo sua base instalada, em todo o mundo, refletindo números impressionantes. E são raríssimos os casos de usuários que aderiram ao Linux e a outros softwares livres e voltaram atrás nessa decisão.

Diante dessa situação antagônica, a evidência é que uma das partes está enganada. E vale perguntar: será que os opositores do Linux e dos produtos de código aberto, em geral, estão de fato criticando com base em argumentação real ou estão simplesmente atirando para todo lado, apostando na tese de que uma mentira — ou vários mitos — bombardeada através da mídia e dos mais diversos meios acabará virando verdade e afastando o potencial usuário de software livre?

Para chegar a uma conclusão, o melhor caminho é relacionar os mitos sobre Linux, em particular, e sobre o software livre em geral, e destrinchá-los. Antes de tudo, porém, é importante alertar os leitores de que, ao ouvir esses mitos, devem pensar um pouco sobre eles para checar se fazem sentido, pois muitos deles podem parecer verdadeiros à primeira vista. Além disso, vale a pena refletir sobre os motivos que levariam pessoas a ter medo do Linux.

Os mitos:

  • Se é gratuito, não deve ser bom;
  • não há bons aplicativos para Linux;
  • Não há suporte para software livre, e nem poderia, pois é um produto gratuito;
  • Linux não é tão seguro quanto software proprietário. Hackers podem ler o código e entrar no sistema;
  • Linux é repleto de bugs;
  • Linux é difícil;
  • Não há treinamento para Linux;
  • Linux não é estável e confiável;
  • Nenhum negócio verdadeiro usa Linux;
  • Nenhum produtor de software, em sã consciência, vai abrir seu código fonte;
  • Produtos como o Linux podem sumir do mercado a qualquer momento, pois não há uma empresa por trás;
  • Linux é caro;
  • O Linux roda em antigos 386 e 486 com funcionalidade mínima.

Os fatos:

Se é gratuito, não pode ser bom.

Este argumento, usado freqüentemente, é completamente falso. O Linux é "free software" e a tradução correta para o termo "free" é livre e não grátis. Distribuidores comerciais de Linux não proibem a distribuição de seus produtos através da Internet, CDs baratos encartados em revistas, ou outras formas de difusão sobre as quais não recebem nem um centavo.

Mas esperar que alguma empresa forneça gratuitamente mídia de software, manual impresso, suporte telefônico e outros serviços adicionais é no mínimo irreal e fantasioso — e nenhuma empresa afirma fazer isto.

Há inúmeros casos de aplicações críticas rodando em Linux, por exemplo, muito da Internet repousa sobre Linux e software livre. Sem eles, a Internet não funcionaria. É bem provável que, direta ou indiretamente, você use algum produto desses todos os dias e nem saiba. Servidores rodando Linux com sendmail gerenciam a maioria das mensagens através da Internet; grande parte dos sites da Internet utilizam o servidor web Apache.

Para entender melhor o conceito de Free Software, veja as licenças que estão disponíveis na Free Software Foundation, www.fsf.org . Uma das coisas que você irá aprender por lá é que é legítimo que o distribuidor de um software livre cobre pelo seu trabalho de gerar as cópias, e demais custos associados, bem como os serviços adicionais oferecidos. Também as licenças esclarecem ao usuário os direitos de utilização do Linux e outros softwares livres.

Não há bons aplicativos para Linux

Esse argumento também é falso. Há muitos aplicativos excelentes. E mais e mais são lançados o tempo todo. Além disso, agora que o movimento pelo software livre está fortalecido, muitas grandes empresas de software proprietário estão fazendo versões de seus programas para sistemas operacionais livres. E há muitas razões de negócios para fazer isso, como será mostrado à frente. Alguns exemplos de boas aplicações são: Netscape, Corel Word Perfect, StarOffice, Oracle, Informix, Adobe FrameMaker, Corel PhotoPaint, Borland Kylix e muito mais.

Não há suporte para Linux, e nem poderia, pois é um produto gratuito

Em 1997, o prêmio InfoWorld para o produto do ano, na categoria de melhor suporte, foi para a comunidade de usuários Linux. Como isso pode acontecer? Bem, a Internet é um lugar amplo e há áreas onde aqueles que detêm o conhecimento estão ligados. Descobriu-se que as pessoas recebem um suporte muito melhor e respostas mais rápidas usando listas de discussão, grupos de notícias, sites de ajuda on-line, do que tentando obter suporte de uma empresa comercial. Esse tipo de suporte é gratuito, mesmo se o problema foi causado por erro do usuário e não por bug de software.

Se todas essas informações ainda não forem suficientes, o usuário poderá optar por suporte pago, fornecido por empresas especializadas em suporte para Linux, como por exemplo a Linuxcare (www.linuxcare.com).

Linux não é tão seguro quanto software proprietário, hackers podem ver o código e invadi-lo.

Embora esse argumento pareça bastante lógico, à primeira vista, a verdade é exatamente o oposto. Segurança através do desconhecimento não é segurança. O desconhecimento dá uma falsa sensação de segurança. Há muitas pessoas que não encontram nada melhor para fazer do que tentar invadir software proprietário. Algumas são muito talentosas e, se há brechas possíveis, elas as encontrarão. Considere por um momento algum algoritmo de encriptação. Se ele quer uma chance de reconhecimento ele precisa ser Open Source. Por que? Porque sem uma intensa avaliação por parte da comunidade de desenvolvedores, ele nunca será aceito como seguro. O "ping of death", por exemplo, representou um ataque muito sério porque ele podia paralisar o servidor. Poucas horas depois de sua descoberta, a plataforma Linux já tinha uma correção contra o ataque. Produtos de código fechado não chegaram a uma solução por meses. Você gostaria de rodar seu negócio sobre software que tem regras de segurança sobre as quais você não pode ter nenhum controle e às quais não se tem acesso?

Linux é repleto de bugs

E o software proprietário, não é? Companhias tradicionais de software — por maiores que sejam - não têm recursos equiparáveis e nem programadores tão motivados se comparados à legião de programadores que, em todo o mundo, dedicam seu tempo a desenvolver o Linux e outros free softwares. Assim, não é por acaso que a correção de um bug, que no software comercial pode demorar semanas, meses ou até ser solucionado apenas na versão seguinte, são geralmente feitas em questão de horas.Não se está falando que o software livre seja livre de bug, e sim, que com soluções rápidas e contínuo melhoramento do código fonte, tem uma clara vantagem.

Além disso, é muito grande a responsabilidade de expor publicamente seu código fonte, uma vez que as pessoas irão análisá-lo com severidade e criticar seus erros. Por outro lado, isso acelera muito o processo de desenvolvimento e também abre espaço para diversas contribuições, as quais submetem a qualidade dos processos de desenvolvimento a uma estrutura bem mais rigorosa. Essa nova estrutura fornece invariavelmente uma depuração mais exigente e custos muito mais reduzidos.

Linux é difícil

Essa alegação cai por terra, por exemplo, quando se vê um estudo de caso como o do Colégio Stella, mostrado nesta edição da RdL, em que crianças da pré-escola iniciam-se na computação através do Linux. Não é preciso ser nenhum especialista para pilotar um Linux, principalmente porque a grande maioria das pessoas quer aplicativos e ambientes gráficos — facéis de usar e aprender intuitivamente ou com pequeno esforço — e que encontram logo de cara ao instalar o Linux através de qualquer das distribuições existentes. A curva de aprendizado é bem pequena, como em qualquer outro sistema que você conhece, e a documentação é muito extensa e acessível para qualquer um. Browsers, e-mail, editores e processadores de textos, editores de imagens bitmap ou vetoriais, planilhas, gerenciadores de arquivos, visualizadores, bancos de dados, proxy, servidores, existem em quantidade e qualidade mais do que suficiente para convencer qualquer usuário. Na hora de pilotá-lo tudo transcorre sem traumas e usando o conhecimento de outros sistemas, logo se pega o seu "jeito" e se desmascara outro mito, que leva as pessoas a confrontar a real intenção dos que o acusam de ser difícil. Também devemos levar em conta o medo da mudança que induz as pessoas a pensar que o Linux é difícil, mas na verdade a dificuldade está na mudança de paradigma.

Não há treinamento para Linux.

Já existem várias empresas, inclusive no Brasil, oferecendo treinamento para Linux, embora em muito menor escala do que as opções existentes para produtos comerciais. Mas isso está mudando rapidamente, inclusive porque as empresas de treinamento estão constatando quanto o movimento pelo software livre está crescendo, e percebem que esta é uma grande oportunidade de negócios. Além disso, há muita literatura sobre Linux e software livre, sem contar tudo que está disponível na Internet e que representa um valioso recurso de treinamento. Veja na seção de classificados da RdL as empresas que já estão investindo no mercado brasileiro com treinamento para Linux.

Linux não é estável ou confiável.

Este é mais um mito destinado a espalhar o medo e que é absolutamente desprovido de fundamento. Quantas vezes seu sistema proprietário travou nesta semana? Saiba que é comum sistemas Linux funcionando durante meses ininterruptos, sem nunca travarem a ponto de precisar de uma reinicialização. E sobre a instalação de software? Seu sistema exige que você reinicialize depois de instalar um novo programa? A resposta será "não", se você estiver usando Linux.

Além disso, por que mais e mais empresas utilizam o Linux para rodar aplicações em missão crítica? O correio dos Estados Unidos utiliza Linux para manejar grandes volumes de mensagens. O Apache é um web server tão estável que a IBM abandonou seus produtos e agora distribui o Apache com suas aplicações Web.

Nenhuma grande empresa usa Linux.

Ao contrário. Há um histórico de adesão onde o perfil é de grandes especialistas em todas as áreas, de desenvolvedores de gabarito, que avaliaram o sistema e passaram a recomendá-lo a seus clientes. Um número significativo diz respeito à base de provedores de Internet, onde se concentra uma enorme quantidade de máquinas movidas a Linux. E os administradores desses sistemas não optaram por ele porque é mais barato, e sim porque atendia plenamente suas requisições técnicas, como robustez, escalabilidade e segurança, e principalmente, porque ele é totalmente customizável e o acesso ao código é completo. Não podemos deixar de citar os bancos, companhias automobilísticas e indústrias que utilizam o Linux como solução em seus sistemas ou redes.

Nenhum produtor de software, em sã consciência, vai abrir seu código.

E por que a Netscape o fez, tal como a SUN e a Digital Creations, entre tantas outras?

Produtos como o Linux podem sumir do mercado a qualquer momento, pois não há uma empresa por trás.

Na verdade, programas de código aberto sobrevivem mesmo sem empresa, o que não é possível na indústria do software comercial. Existe o testemunho de muitos que foram seriamente lesados pela descontinuidade de determinados softwares comerciais, o que não acontece quando o código é aberto, justamente porque o fato de o código estar disponível garante essa permanência. No universo comercial é justamente o contrário, a falência de uma empresa ou o monopólio podem deixar os usuários sem opção.

Linux é caro.

Os opositores do Linux alegam que, computados o custo de aquisição do software e hardware, da assistência técnica, o treinamento das pessoas que vão utilizar a plataforma e o desenvolvimento de aplicações, o Linux revela-se uma solução bastante cara, e não gratuita, como se propaga. E afirmam que raramente o Linux é grátis. Além disso, consideram que o preço de aquisição de qualquer software é apenas uma pequena parcela do custo total de propriedade da solução da qual este software é parte, principalmente incluindo custos diretamente relacionados, como treinamento, instalação e suporte, e outros associados de forma mais difusa, como adaptação de rotinas de trabalho, perdas de dados ou outros valores devido a falhas no software ou a vírus, como o recente I LOVE YOU, que por sinal não danificou nenhum sistema Linux.

Alegar que o valor de uma licença de software, exclusiva por máquina, não é parcela significativa na solução global, encerra o debate com qualquer consumidor. Instalar ou atualizar o Linux de qualquer das grandes distribuições, com a liberdade para copiar ilimitadamente, com preços unitários muito acessíveis, tem sido um dos pilares da sua meteórica expansão. Isso é público e notório, principalmente para as empresas, que sempre se preocupam em minorar seus custos de produção, representando uma economia fundamental na luta para manter a competitividade. Quando elas analisam rigorosamente outros quesitos como treinamento, desenvolvimento, suporte e mão-de-obra, o resultado é o espelho do que se vê na mídia em todo o mundo: Linux.

O Linux roda em antigos 386 e 486 com funcionalidade mínima.

Claro que nos 386 e 486 a funcionalidade da atual versão do Linux é restrita, mas é plenamente possível transformar uma máquina dessas em um servidor proxy para acesso remoto, um gateway de mail, um terminal de entrada de dados ou diversas outras aplicações. De fato é difícil rodar um ambiente gráfico complexo como o KDE ou o GNOME em um 386 ou 486, mas sempre se pode contar com alternativas, como o Blackbox ou o IceWM. Ou mesmo interfaces em modo texto, mais do que suficientes em máquinas servidoras, que em geral dispensam até mesmo o monitor de vídeo.

Conclusão

Cada vez mais as empresas se conscientizam de que soluções fechadas nem sempre são a melhor alternativa, ainda mais quando sujeitas a custos desnecessários, problemas de projeto (vide novamente I LOVE YOU, vírus de computador em geral - o Linux é imune! - e necessidade de reboot e indisponibilidade como procedimento padronizado de reconfiguração).

O Linux caminha a passos largos para se firmar como solução para empresas e usuários domésticos. Não dizemos que o Linux seja perfeito, mas com certeza ele já atende por completo a inúmeras corporações em todo o mundo, aprovado como um projeto que já atingiu sua maturidade. Empresas do porte da Mercedes Benz, IBM, YellowCab, Boeing, Southwestern Bell and Pacific Bell Telephones, Hewlett Packard, sites como o Yahoo, instituições reconhecidas como o Parlamento inglês, como os Correios dos Estados Unidos e muitos outros exemplos de peso, endossaram o sistema e atestam que ele é muito mais do que uma promessa, que ele é uma alternativa, tanto em custos de implantação, treinamento, administração, quanto na seriedade do seu desenvolvimento. Para gente desse porte não é permitido errar e por isso só apostam no certo. São eles que dizem que o Linux é o futuro e que adotá-lo é muito mais seguro do que querem fazer acreditar seus opositores.

Milhões de pessoas usam o Linux, e não um grupo pequeno nessa ou naquela universidade. E entre os usuários não há um predomínio de hackers, de gente que é capaz de lidar com sistemas complexos, e sim de gente comum com o mesmo nível cultural encontrado entre usuários de outras plataformas. O software livre, submetido continuamente à aprovação, mostrou que é hoje uma indústria eficientíssima que garante uma longevidade incontestável.

Um novo dispositivo é lançado e imediatamente já se começa o desenvolvimento do seu driver ou de seus aplicativos, e muito rapidamente os usuários têm acesso ao produto. Um novo tipo de software é lançado e milhares de desenvolvedores correm contra o tempo para fazer os aplicativos correspondentes para a plataforma Linux.

Existe uma demanda contínua por parte dos usuários e isso impulsiona uma multidão de empresas e desenvolvedores, alimentando um gigantesco círculo produtivo.

 

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