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Opinião
Certamente você conhece, já ouviu
falar, ou já leu um artigo de um desses caras que falam e escrevem
GNU/Linux quando se referem a uma distribuição e não ao próprio kernel do
Linux. Em geral, essas pessoas preferem software “Livre” a Open Source, e,
se você usa GNU/Linux, também deveria preferir.
Ter o código fonte aberto não
significa ser livre; exemplos clássicos são o leitor de e-mails pine,
que não permite a distribuição de versões modificadas, ou o fwtk, um
popular conjunto de proxies para diversos serviços de rede, que é
distribuído como fonte, mas que só po-de ser obtido mediante informação do
endereço de e-mail, e não pode ser redistribuído.
Pessoas preocupadas com a liberdade
do software evitam a todo custo programas desse tipo, que você pode ver,
mas não pode tocar, e que não oferecem ao usuário os mesmos direitos que o
desenvol-ve-dor tem so-bre o programa. Num pa-tamar abaixo deste, temos o
soft-ware “grátis”, que pode ser baixado e usado à vontade, sem custo de
licencia-mento. Isto é software proprietário, e traz embutidos todos os
problemas deste.
Para muitas pessoas não faz
diferença se o software é livre ou não; o que importa é se “é de graça”,
isto basta. Ora, se você usa um sistema proprietário, deve jogar segundo as
regras do sistema proprietário (e por favor, compre as licenças de uso);
mas se usa um sistema livre, também deveria jogar sob suas regras e
preservar ao máximo a liberdade que ele garante a você.
Ignorar este princípio e mesclar
sistemas livres com software proprietário é um problema que se torna mais
evidente quando tratamos de ferramentas de desenvolvimento. Se
desenvolvemos soft-wares livres que dependem de ferramentas proprietárias
“gratuitas” para serem compilados/executados, estamos armando nossa
“barraca livre” sobre uma haste proprietária. Quando o detentor dos
direitos sobre o programa “gratuito” desistir de distribuí-lo de graça e
resolver cobrar por ele, ou mesmo retirá-lo completamente de circulação,
(literalmente “chutando o pau da nossa barraca”), todo o nosso esforço
cairá também por terra.
Ao aceitar depender de soft-ware
proprietário para o uso de sistemas livres, você está dando parte de sua
liberdade em troca de não ter que pagar para usar um sistema proprietário.
Esta é a verdade. É revoltante ver um monte de gente se interessar por
GNU/Linux apenas porque “é de graça”. É meramente a aplicação da lei de
Gérson (a de “que-rer levar vantagem em tudo”), tão amal-gamada ao
cotidiano brasileiro. E, claro, desprezando as reais vantagens de se operar
com um sistema completamente livre.
Em um sistema completamente livre
você nunca será forçado a um upgrade apenas porque o formato binário dos
arquivos do seu editor de texto mudou, ou nunca terá que se preocupar
porque o programa que arquivou os seus dados nos últimos 20 anos não existe
mais e você não tem como ler ou converter toda sua história. Então por que
trazer as complicações das regras do jogo proprietário para nosso jogo?
Devemos sim nos esforçar para mantê-las distantes. Foi para isso que nasceu
o software livre, e não para derrubar esta ou aquela empresa, ou para que a
sua empresa economize X mil reais na imple-men-tação do banco de dados
(proprietário) Y que pode rodar num sistema Livre.
Se você é um desenvolvedor, pense
duas vezes antes de desenvolver sistemas livres usando
compiladores/ferramentas proprietárias que tornem seu produto dependente
destas. Lembre-se dos casos recentes de aplicativos Java e dos apli-cativos
baseados na biblioteca Qt (como o KDE), ambos custaram anos de pressão por
parte dos usuários ou desenvolvimento para que os problemas de
licenciamento fossem solucionados (no caso do Java ainda não
completamente). Não devemos incorrer mais uma vez neste erro.
“Se você
usa
um sistema
proprietário,
deve jogar
segundo as regras do sistema proprietário, mas se usa um sistema livre,
também deveria jogar
sob suas regras”
Eduardo Maçan
macan@debian.org
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